Mudanças climáticas: quais são os desafios do setor de seguros?

O aquecimento global, impulsionado pela ação humana por meio de atividades econômicas poluentes e a degradação ambiental, tem elevado a frequência e a gravidade de eventos climáticos extremos.

Segundo dados oficiais, desde 1990 o país registrou mais de 64 mil ocorrências relacionadas a eventos climáticos, com uma média anual que ultrapassa 4 mil nos últimos quatro anos.

Em 2023, o desastre no Rio Grande do Sul, que deixou 183 mortos, exemplifica a dimensão dos impactos que o país enfrenta. Para Eduard Folch, presidente da Allianz Seguros, o problema vai além das perdas materiais: “A força destrutiva dos desastres naturais se agrava pela concentração de propriedades em áreas antes não afetadas por esses fenômenos”.

Diante desse cenário, o mercado segurador tem se mobilizado para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e apoiar a recuperação das comunidades afetadas.

André Cordeiro, superintendente de estratégia de mercado, qualidade e ESG da Tokio Marine, destaca que a prioridade é o atendimento humano e ágil às vítimas. “Em 2023, conseguimos reduzir em 30% o prazo médio para pagamento de sinistros [imprevistos cobertos em contratos de seguros] relacionados a eventos climáticos extremos, facilitando a recuperação das comunidades”, afirma.

Prevenção é saída

A prevenção é outro pilar fundamental para enfrentar os desafios climáticos. Erika Medici, CEO da Axa no Brasil, ressalta que “cada dólar investido em prevenção pode economizar até seis após a ocorrência de um desastre”.

Ela cita como exemplo os furacões Katrina (2005) e Irma (2017) nos Estados Unidos, que, apesar de trajetórias semelhantes, tiveram impactos econômicos muito diferentes graças a melhorias nas medidas preventivas. “O setor de seguros tem um papel crucial na prevenção, no gerenciamento de risco e na conscientização”, reforça.

Felipe Nascimento, CEO da Mapfre, complementa que a adaptação e a inovação nos produtos e serviços são essenciais para aumentar a resiliência do mercado e da sociedade. “Nossa preocupação é melhorar a previsibilidade, competir na prevenção e apresentar soluções técnicas e comerciais avançadas, além de apoiar os diversos setores da economia do país”, explica. Ele destaca a importância de identificar os níveis de vulnerabilidade para garantir sustentabilidade diante da nova realidade climática.

O Brasil, detentor da maior biodiversidade do mundo, é um dos países mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global, que já ultrapassou o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.

As consequências incluem ondas de calor prolongadas, chuvas intensas e concentradas, secas severas e eventos extremos fora de época, que afetam a produção agrícola, o abastecimento de água e a saúde da população.

Especialistas alertam que, sem políticas eficazes de mitigação e adaptação, o país pode enfrentar um aumento médio de temperatura de até 4°C até o final deste século, com impactos ainda mais graves.

A mobilização do setor privado, especialmente do mercado de seguros, junto a políticas públicas robustas, é fundamental para enfrentar essa crise climática e proteger vidas, patrimônios e o meio ambiente.

Casa do Seguro

Para enfrentar esses desafios, a CNseg criou a Casa do Seguro, projeto que tem como objetivo integrar o setor nas discussões sobre as mudanças climáticas

A Casa do Seguro funcionará durante a COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, em Belém (PA).

Em uma iniciativa inédita, a Casa do Seguro fará conexão do mercado de seguros com outros setores econômicos, estimulando a convergência entre agentes públicos e privados, com ampla participação da sociedade civil.

A agenda da Casa do Seguro estará focada no papel do setor na gestão de riscos climáticos e no financiamento de iniciativas sustentáveis.

Na programação, destacam-se:

  • debates e painéis temáticos;
  • fóruns em parceria com entidades setoriais, organizações internacionais e contrapartes estrangeiras da CNseg;
  • reuniões bilaterais;
  • apresentação de produtos e serviços; e
  • atividades culturais.

 

Alguns eixos vão pautar a agenda da Casa do Seguro, como a proteção social e dos investimentos, as finanças sustentáveis, a infraestrutura resiliente, a inteligência climática, seguros & agronegócio, a descarbonização da frota brasileira e como os seguros podem auxiliar no desenvolvimento industrial mais sustentável.

Para o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, o mercado segurador tem um papel de destaque na transição para uma economia mais verde e resiliente, e a atuação do setor na COP30 refletirá a importância de suas contribuições, em um cenário de agravamento das mudanças climáticas.

“A Casa do Seguro será uma vitrine do nosso papel como facilitadores de inovação e mitigadores de riscos climáticos, reforçando nosso compromisso com o futuro sustentável do planeta. Esse projeto é o ponto alto de uma estratégia de posicionamento do setor segurador nas discussões climáticas que ganhou maior expressão a partir de 2023, na COP28, em Dubai, e estabelecerá um marco em Belém”, destaca.

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