Seguradoras criam hubs climáticos para enfrentar as mudanças climáticas

O setor de seguros, reconhecido por sua expertise em gerenciamento de riscos, tem se consolidado como um pilar estratégico no combate aos efeitos das mudanças climáticas. A partir da análise de dados meteorológicos, registros de sinistros (riscos previstos em contrato) e simulações avançadas, seguradoras têm criado “hubs climáticos” — centros especializados capazes de gerar informações críticas que orientam decisões no agronegócio, na infraestrutura, na energia e até no planejamento urbano.

Mais do que indenizar prejuízos, essas estruturas ajudam empresas e governos a antecipar riscos ambientais, ajustar estratégias e minimizar perdas, fortalecendo a resiliência coletiva diante de eventos extremos que tendem a se intensificar nas próximas décadas.

“À medida que avançamos na construção de infraestruturas resilientes, os dados do setor de seguros assumem um papel determinante para orientar essas decisões”, afirma André Cordeiro, superintendente de estratégia de mercado, qualidade e ESG da Tokio Marine.

Segundo Cordeiro, a análise detalhada de registros de sinistros relacionados a inundações, tempestades e outros fenômenos extremos permite comparar características e soluções aplicadas em diferentes projetos de engenharia. “Com essa base, identificamos quais estruturas são mais resistentes a riscos naturais, o que também nos ajuda a precificar seguros de forma mais precisa e incentivar investimentos mais eficientes e sustentáveis”, explica.

A associação entre dados históricos de seguros e tecnologias geoespaciais é outra frente de inovação no setor. Mauricio Masferrer, diretor-executivo de negócios corporativos da Allianz Seguros, destaca que informações sobre frequência, intensidade e custo de desastres naturais ajudam a apontar áreas mais vulneráveis — um insumo essencial para investidores e gestores públicos.

“Nossa política de subscrição combina dados de seguros com imagens de satélite e arquivos KML para avaliar o risco de inundações em áreas rurais”, exemplifica. O processo inclui sobreposição de camadas informativas — como áreas embargadas pelo Ibama, histórico de queimadas, vendavais e enchentes — sobre o mapa da propriedade ou local a ser segurado.

De acordo com Masferrer, esse mesmo tipo de análise pode ser aplicado em áreas urbanas propensas a enchentes recorrentes, permitindo priorizar investimentos em drenagem, canais de escoamento ou obras de contenção, além de evitar projetos críticos em regiões de alto risco.

Para Alexandre Campos, vice-presidente de RH, jurídico e ASG da AXA no Brasil, o mapeamento de vulnerabilidades com base em sinistros históricos e informações geográficas é fundamental, mas precisa ser atualizado constantemente. “Com o avanço das mudanças climáticas, o uso de inteligência de dados nos permite não só analisar o passado, mas antecipar cenários futuros”, ressalta, acrescentando que a atualização contínua destas informações amplia a capacidade de resposta e direciona, de forma mais assertiva, recursos públicos e privados para regiões onde a adaptação é mais urgente.

Importância dos dados

A cooperação entre seguradoras, governos, empresas e universidades potencializa resultados. No agronegócio, por exemplo, o cruzamento de dados pode ajudar na escolha de culturas mais adequadas às condições climáticas locais, reduzindo perdas.

Ferramentas como o Atlas do Seguro Rural, do Ministério da Agricultura e Pecuária, oferecem um compilado de informações sobre apólices (contratos) subvencionadas desde 2006, possibilitando recortes por região, cultura e tipo de evento climático.

Na construção civil, dados de risco climático influenciam normas técnicas e incentivam projetos adaptados à realidade de cada região, como edifícios resistentes a vendavais ou obras projetadas para áreas de alagamento.

Estudos indicam que cada dólar investido em prevenção gera uma economia de US$ 5 a US$ 7 em custos de recuperação pós-desastre, conceito que embasa iniciativas como a plataforma CAReS, da Allianz Commercial, que transforma dados climáticos em indicadores financeiros e operacionais.

Desenvolvida em parceria com clientes, a ferramenta avalia 12 tipos de eventos extremos — entre eles, incêndios florestais, ondas de calor, tempestades tropicais e inundações — e projeta riscos para quatro períodos: tempo presente, 2030, 2050 e 2080. Com ela, empresas podem mapear ativos mais expostos, estimar perdas futuras e adotar estratégias de mitigação, como realocação de operações, adaptação de estruturas ou diversificação da cadeia de suprimentos.

A combinação de informações de seguros, imagens de satélite, sensores ambientais e modelos meteorológicos em tempo real vem dando mais precisão ao mapeamento de riscos e permitindo antecipar eventos, agir preventivamente e guiar decisões estratégicas em áreas como gestão urbana, agricultura e manejo de recursos naturais.

Apesar dos avanços, André Cordeiro pondera que ainda há desafios, especialmente na verificação da eficácia real das medidas adotadas para promover infraestruturas mais resistentes. Ele defende maior aproximação das seguradoras com construtoras e empresas de engenharia consultiva, além de investimentos públicos e privados em bancos de dados robustos e atualizados sobre a ocorrência e os impactos de eventos climáticos. Para o setor, transformar dados em resiliência já não é apenas uma vantagem competitiva: é uma necessidade diante da nova realidade climática.

Sobre a Casa do Seguro

Casa do Seguro estará situada em local muito próximo ao espaço oficial da COP30. Além da programação de conteúdo, promoverá iniciativas de responsabilidade social, prestigiando a economia e a mão de obra locais. O projeto é ambientalmente responsável e foi desenvolvido dentro dos conceitos de evento neutro e resíduo zero, prevendo ainda uso eficiente de água e energia.

Com o apoio de seus empoderadores – AllianzAXA, Bradesco Seguros, MAPFREMarshPortoPrudentialTokio Marine and Marsh McLennann –  a Casa funcionará em 1,6 mil m² de área útil, acomodando plenária com 100 lugares, seis salas de reunião, business lounges, estúdio para gravação de podcasts, sala de imprensa, espaço de convivência e área para exposições artísticas e apresentações culturais. 

Na programação, destacam-se:

  • debates e painéis temáticos;
  • fóruns em parceria com entidades setoriais, organizações internacionais e contrapartes estrangeiras da CNseg;
  • reuniões bilaterais;
  • apresentação de produtos e serviços; e
  • atividades culturais. 

 

Alguns eixos vão pautar a agenda da Casa do Seguro, como a proteção social e dos investimentos, as finanças sustentáveis, a infraestrutura resiliente, a inteligência climática, seguros & agronegócio, a descarbonização da frota brasileira e como os seguros podem auxiliar no desenvolvimento industrial mais sustentável.

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