Mudança climática impõe novo paradigma à indústria de seguros, alerta presidente da CNseg

Dyogo Oliveira afirma que os modelos de risco tradicionais já não são capazes de prever os impactos dos eventos extremos

“As mudanças climáticas não estão apenas elevando o volume de indenizações pagas pelo setor de seguros, mas transformando a própria essência da atividade seguradora”, afirmou o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Dyogo Oliveira, durante a abertura do 3º Workshop de Seguros para Jornalistas, realizado pela CNseg no dia 22 de agosto, no Rio de Janeiro.

Segundo ele, o maior desafio para os próximos anos será rever a modelagem de análise de risco, já que o método tradicional, baseado em estatísticas passadas, não consegue mais capturar a realidade atual.

Oliveira explicou que as mudanças climáticas representam uma “quebra de série temporal”. Em outras palavras, os dados históricos, que serviam de base para precificar e calcular riscos, deixaram de refletir o que está por vir. “A realidade atual não se comporta mais como se comportava no passado. Portanto, olhar os dados do passado não serve para avaliar qual é o risco futuro”, afirmou.

O impacto já é sentido, por exemplo, no seguro rural, que enfrentou graves problemas de precificação nos últimos anos. Ele citou o caso do Rio Grande do Sul: historicamente, havia uma seca a cada dez anos. No entanto, em apenas cinco anos, o estado registrou quatro secas e três enchentes. “Seca num semestre, enchente no outro”, resumiu.

Segundo o presidente da CNseg, esse é o retrato mais claro de como os eventos climáticos se tornaram mais frequentes, voláteis e severos. No Brasil, 94% dos municípios decretaram estado de emergência ou calamidade por motivo climático ao menos uma vez nos últimos dez anos, somando R$ 327 bilhões em perdas econômicas. Apenas em 2024, foram registrados 1.690 eventos, média de quatro por dia.

Apesar do quadro, ele ressaltou que a participação do setor de seguros ainda é limitada: no caso do Rio Grande do Sul, as perdas chegaram a mais de R$ 100 bilhões, mas apenas R$ 6 bilhões foram cobertos por apólices.

Para enfrentar esse cenário, a CNseg tem atuado em fóruns internacionais, com presença na London Climate Week, no Fórum Brasil-França de Seguros e na Europe Insurance Meeting, o maior evento de seguros da Europa. Oliveira lembrou que a urgência do tema é global: no ano passado, o mundo registrou US$ 368 bilhões em prejuízos econômicos decorrentes de eventos climáticos, sendo que 40% desse valor, US$ 145 bilhões, foram suportados pela indústria de seguros. No Brasil, a Confederação também vem desenvolvendo iniciativas, como o Hub de Inteligência Climática, destinado a aprimorar o conhecimento sobre riscos e auxiliar as seguradoras na criação de produtos mais adequados.

O presidente da CNseg chamou atenção ainda para uma lacuna preocupante: o setor público brasileiro, que também sofre os impactos das mudanças climáticas, hoje, está completamente sem nenhum seguro. “Não há seguro da infraestrutura pública, das rodovias, das ferrovias, dos aeroportos. Não há seguro dos prédios públicos, das escolas, dos hospitais, dos escritórios do governo. Não há seguro para nada disso”, afirmou.

“O clima não apenas mudou. Ele se tornou mais volátil, e os extremos mais frequentes”, reforçou o presidente da CNseg, lembrando que o setor terá papel fundamental na construção de resiliência da sociedade frente aos impactos climáticos.

Confira abaixo a íntegra da apresentação do presidente da CNseg no evento

Sobre a Casa do Seguro

Casa do Seguro estará situada em local muito próximo ao espaço oficial da COP30. Além da programação de conteúdo, promoverá iniciativas de responsabilidade social, prestigiando a economia e a mão de obra locais. O projeto é ambientalmente responsável e foi desenvolvido dentro dos conceitos de evento neutro e resíduo zero, prevendo ainda uso eficiente de água e energia.

Com o apoio de seus empoderadores – AllianzAXA, Bradesco Seguros, MAPFREMarshPortoPrudentialTokio Marine e Marsh McLennann –  a Casa funcionará em 1,6 mil m² de área útil, acomodando plenária com 100 lugares, seis salas de reunião, business lounges, estúdio para gravação de podcasts, sala de imprensa, espaço de convivência e área para exposições artísticas e apresentações culturais. 

Na programação, destacam-se:

  • debates e painéis temáticos;
  • fóruns em parceria com entidades setoriais, organizações internacionais e contrapartes estrangeiras da CNseg;
  • reuniões bilaterais;
  • apresentação de produtos e serviços; e
  • atividades culturais. 

 

Alguns eixos vão pautar a agenda da Casa do Seguro, como a proteção social e dos investimentos, as finanças sustentáveis, a infraestrutura resiliente, a inteligência climática, seguros & agronegócio, a descarbonização da frota brasileira e como os seguros podem auxiliar no desenvolvimento industrial mais sustentável.

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