Como as seguradoras atuam antes, durante e após uma tragédia climática?

O setor de seguros no Brasil tem assumido um papel estratégico e multifacetado diante do aumento dos desastres climáticos, atuando de forma proativa na prevenção, na resposta e na recuperação dos impactos causados por eventos extremos.

Executivos do mercado destacam que as seguradoras precisam estar preparadas para agir antes, durante e depois das catástrofes, com foco na agilidade, na inovação e na parceria com clientes e demais setores da economia.

André Cordeiro, superintendente de estratégia de mercado, qualidade e ESG da Tokio Marine, ressalta que as seguradoras têm desafios em todas as fases do ciclo de um desastre climático.

“Antes do evento, é fundamental utilizar modelos climáticos avançados para reorganizar a cadeia de parceiros e desenvolver portfólios que apoiem a transição energética. Durante as catástrofes, a prioridade é garantir atendimento rápido e direcionado às áreas mais afetadas. Após o evento, o pagamento ágil das indenizações é essencial para a recomposição humana e patrimonial das comunidades impactadas”, afirma o executivo.

Eduard Folch, presidente da Allianz Seguros, reforça que o ponto de partida para a atuação das seguradoras é a avaliação contínua dos riscos enfrentados pelos segurados, o que permite orientar medidas preventivas eficazes.

Em situações de desastre, a agilidade na análise e no pagamento dos sinistros (imprevistos cobertos em contratos de seguros), além da mobilização de equipes e canais específicos, é crucial para acelerar a recuperação. Ele cita como exemplo a resposta rápida da Allianz às enchentes no Rio Grande do Sul em 2023, que causaram prejuízos estimados em R$ 8 bilhões e afetaram centenas de municípios.

“No caso do Rio Grande do Sul, tomamos medidas entre as quais valoramos os sinistros utilizando barcas indo aos lugares. A gente se aproximou e facilitou o pagamento dos boletos, a renovação das apólices [contratos]. Isso trouxe agilidade”, diz o executivo.

Prevenção

Para Erika Medici, CEO da Axa no Brasil, a prevenção e a comunicação transparente com clientes e a sociedade são fundamentais.

“Na Axa, esse é um pilar extremamente forte e impacta toda a formatação de coberturas e serviços da companhia”, diz a executiva.

Durante os eventos climáticos, a empresa utiliza tecnologias como drones para vistoriar áreas afetadas e garantir suporte emergencial eficiente. Após a crise, o foco se volta para a regulação ágil dos sinistros, visando restabelecer a economia local e o suporte financeiro aos clientes.

Felipe Nascimento, CEO da Mapfre, destaca que o setor deve atuar em todas as etapas: antes, com avaliação de riscos e desenvolvimento de seguros específicos para demandas socioambientais; durante, com monitoramento e atendimento emergencial; e depois, promovendo educação e conscientização.

“Com as lições aprendidas, buscamos promover ações de educação e conscientização para mitigação de risco, incentivando práticas de prevenção e adaptação a essas mudanças climáticas”, reforça Nascimento.

O mercado de seguros brasileiro enfrenta desafios crescentes diante da intensificação dos eventos climáticos, que têm elevado o volume e o custo dos sinistros.

Além da resposta imediata, o setor tem papel fundamental na transição para uma economia de baixo carbono, oferecendo produtos que incentivam práticas sustentáveis e apoiam investimentos em energia limpa e infraestrutura resiliente.

Estudos indicam que o setor de seguros precisará ampliar significativamente sua capacidade de cobertura para viabilizar os trilhões de dólares em investimentos necessários para a adaptação e mitigação climática.

Sobre a Casa do Seguro

Para enfrentar esses desafios, a CNseg criou a Casa do Seguro, projeto que tem como objetivo integrar o setor nas discussões sobre as mudanças climáticas

A Casa do Seguro funcionará durante a COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, em Belém (PA).

Em uma iniciativa inédita, a Casa do Seguro fará conexão do mercado de seguros com outros setores econômicos, estimulando a convergência entre agentes públicos e privados, com ampla participação da sociedade civil.

A agenda da Casa do Seguro estará focada no papel do setor na gestão de riscos climáticos e no financiamento de iniciativas sustentáveis.

Na programação, destacam-se:

  • debates e painéis temáticos;
  • fóruns em parceria com entidades setoriais, organizações internacionais e contrapartes estrangeiras da CNseg;
  • reuniões bilaterais;
  • apresentação de produtos e serviços; e
  • atividades culturais.

 

Alguns eixos vão pautar a agenda da Casa do Seguro, como a proteção social e dos investimentos, as finanças sustentáveis, a infraestrutura resiliente, a inteligência climática, seguros & agronegócio, a descarbonização da frota brasileira e como os seguros podem auxiliar no desenvolvimento industrial mais sustentável.

Para o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, o mercado segurador tem um papel de destaque na transição para uma economia mais verde e resiliente, e a atuação do setor na COP30 refletirá a importância de suas contribuições, em um cenário de agravamento das mudanças climáticas.

“A Casa do Seguro será uma vitrine do nosso papel como facilitadores de inovação e mitigadores de riscos climáticos, reforçando nosso compromisso com o futuro sustentável do planeta. Esse projeto é o ponto alto de uma estratégia de posicionamento do setor segurador nas discussões climáticas que ganhou maior expressão a partir de 2023, na COP28, em Dubai, e estabelecerá um marco em Belém”, destaca.

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